Acabei de mandar esse email para uma amiga minha da USP. Acho que nao fui sincera assim com o que sinto em um tempo. Resolvi que deveria postar aqui. Provavelmente eu acabo deletando isso amanha.




Oi Amiga,

Como sempre eu comeco me desculpando por ficar tanto tempo sem mandar atualizacao nenhuma.
Mas aqui estou eu, mais uma vez tentando dar uma super resumida no que tem acontecido ultimamente.
O meu visato de estudante saiu, la pelo meio de setembro, mas o alivio durou pouco, logo depois tive problemas com o horario das aulas e meu horario de tranalho, que acabou sendo resolvido da melhor forma que conseguimos, a familia e eu, porem com certeza nao foi da maneira que nenhum de nos queria ou ficou contente com, simplesmente foi a unica solucao que encontramos.
Bom, no momento eu estou fazendo tres materias, Freshman English, American History I e Critical Thinking. Nada de especifico, e nada de muito interessante ao mesmo tempo. As aulas e homework e tarefas em geral me tomam MUITO tempo. As pessoas nas aulas comigo sao muito mais novas do que eu, portanto a ideia de que eu iria conhecer muitas pessoas na faculdade morreu completamente... Mal tenho tempo para nada, muito menos para socializar.
A parte disso, recentemente estou numa jornada para me matricular para o proximo semestre e parece que o caminho nao vai ser facil. Mais do que isso estou enfrentando a falta de respeito que os funcionarios no escritorio de estudantes internacionais tem com os alunos, ou comigo, estou comecando a achar que eh pessoal. Bom, resumindo, nao estou muito contente com a faculdade aqui.
Quanto a familia.... La em setembro, logo quando meu visto saiu eu conversei com a familia, em relacao as minhas horas de trabalho e salario, e o futuro e tudo que tenho feito e tudo isso. Logico que meu objetivo era um aumento, ja que considero o meu servico de alta qualidade e meu salario mediocre. Minha familia, muito cordialmente concordou comigo em relacao a qualidade dos meus servicos, porem adicionaram [??] que eles poderiam pagar menos para uma aupair, e que eles nao tinham intencao nenhuma de aumentar o meu salario. Logico que eu fiquei decepcionadissima com isso, muito porque sentamos os tres para conversar - o casal e eu- e me senti super "minoria oprimida", como se eles tivessem unido forcas para fazer eu me sentir desconfortavel o suficiente para nao insistir no assunto. E eu nao insisti.
A coisa fica pior, porque pos-conversa, eu me senti horrivel e desmotivada e os problemas com matriculas na faculdade ocorreram nesta epoca. Agora vem o pior, quando resolvemos o problema das aulas eles me dao a noticia de que a Mary esta gravida. isso foi em setembro e ate agora eu ainda nao sei qual o plano deles. A principio era uma "segredo" e como ela tem mais de 40 anos achei melhor nem discutir muito a fundo, afinal de contas muita coisa pode acontecer num comeco de gravidez. Recentemente, apos alguns ultrasons, e depois deles irem "a publico" com a noticia ainda esperei para ver se eles iam me colocar a par dos planos para o futuro,m mas pelo visto isso esta muito longe de acontecer.
Todos esses acontecimentos tem se acumulado - junto com o obvio, outra decepcao no quesito amoroso- e tem pesado muito para eu considerar voltar para o Brasil.
Voce sabe que isso para mim eh adimitir derrota, eh adimitir a pior derrota da minha vida. Para mim voltar para o Brasil eh enfiar meu rabo entre as pernas, cabisbaixa e com um carimbo na minha testa de que eu sou um fracasso sem salvacao. Sim, eu sou dramatica. Mas eh assim que eu me sinto. Tenho tentado achar paz neste futuro iminente, e toda essa conversa de greve na USP nao tem ajudado em nada... [apesar de que eu nao estou tao inteirada dos detalhes, voce sabe que eu perco a paciencia quando essa historia de greve comeca, e os esquerdistas extremistas me irritam de uma forma fenomenal - eu acabei deletando alguns "amigos" no facebook por causa de comentarios sobre a situacao na usp... da mesma forma que deleto quando fazem comentarios sobre preconceituosos ou quando falam muito sobre comer carne - voce sabe que eu voltei a ser vegetariana, neh?] Bom mas eu desviei demais do que eu estava falando...
De resto, eu sinto muita falta da minha familia, apesar de ter meus momentos de intolerancia, e de ser super independente emocionalmente, ou distante emocionalmente, nao sei, eu sinto que no final das contas faz falta ter uns pilares perto de voce, e ultimamente tenho ligado muito para minha mae para tentar encontrar essa paz que tanto me falta.
Minha mae continua trabalhando muito, e ela sempre tenta me ajudar, apesar dela nao entender que me mandar dinheiro nao ajuda nada. Meu irmao passou por uma fase dificil de troca de emprego, mas parece que agora ele esta estavel e contente. Recentemente ele terminou o namoro, que esta rolando desde antes de eu mudar para ca, mas parece que durou so um final de semana - o do aniversario dele- e na segunda feira eles ja estavam namorando de novo. recentemente eu estive em Nova York, uma amiga minha do Brasil estava aqui e foi bom reve-la, apesar de que, em certo ponto me assutou um pouco encontrar um pessoa tao proxima dois anos depois e ver o quantos as minhas mudancas e permanencias e como as mudancas dela e as permanencias dela nos tranformaram em pessoas tao distintas e distantes. Com muito amor, mas distantes. E este eh um dos sentimentos que eu mais temo ao voltar para o Brasil.

Nao nego que tenho sido uma pessima amiga, mas ateh onde me lembro eu sempre fui assim, aqui eles tem um termo para isso, uma giria "flake" quer dizer que a pessoal eh instavel, nao confiavel. Eu nao me orgulho de ser assim com meus amigos dai. Com os daqui eu tive a oportunidade de comecar diferente, portanto posso ser uma pessoa diferente. Me desculpe por nao conseguir ser uma pessoa/amiga diferente para voce.
Eu ainda penso muito em voce, sinto muita saudade. Acho super cliche, mas eu queria ter tido mais consciencia de como eu era feliz nos meu comeco da USP. A verdade eh que pessoalmente, apesar de ter tido uma otima conquista eu tambem estava sendo destruida aos poucos por um relacionamento que finalmente acabou com o que eu era e deu origem ao que eu era quando eu sai do Brasil e que deu origem ao que eu sou hoje. Novamente eu divago e fujo do ponto. O ponto eh que eu era feliz. E nos meus momentos de felicidade na USP e naquela epoca voce sempre esta la.

Bom, eh isso. Eu estou aqui evitando de escrevr meus trabalhos finais, 3 para ser mais exatas e nao sei o que vai ser deles.
Beijos e um abraco forte.

Cecilia

PS: Eu tambem quero noticias suas.